Na terra do sol nascente há um costume que o 4º andar de qualquer prédio não é visto com bons olhos. Na verdade o número quatro. Seria como o treze para nós ocidentais. Isso porque o número 4 四 (lê-se shi) possui a mesma sonoridade da palavra “morte” 死 (lê-se shi), ou seja, são palavras homófonas. Sendo assim, o quarto andar 四階 (lê-se shikai), poderia ser traduzido também como o “andar da morte”.
Devido a esse jogo de palavras, os quartos andares dos prédios são de alguma forma evitados. Os apartamentos do quarto andar geralmente são os mais baratos de alugar e nos hospitais ficam a parte administrativa, até porque ser internado no “andar da morte” não é nada sugestivo, não?
Um pequeno detalhe é que no Japão, a contagem começa com o primeiro andar no Térreo. Alguém que esteja lendo este conto agora com certeza está dizendo algo como “Migo, aqui não é o CENIBRAC!”. Pois bem, trazendo para nosso mundo o famigerado Andar cairia exatamente no nosso querido Terceiro Andar Celuense. Um outro pequeno detalhe. Se contarmos em sentido horário, no nosso shikai teríamos respectivamente: Hospedagem Fixa – Biblioteca – Quatro 320 – Quarto 310. Sim. O contemplado como quarto apartamento do quarto andar.
Após saber desse conhecimento milenar, percebi que coisas um tanto quanto anormais sempre aconteceram nesta região desta Casa que também possui seus mistérios. Como por exemplo em uma tarde sombria e chuvosa de Setembro em que acordo aos gritos de “Êta Porra!” de minha pálida e amarela véia ao ver uma ave negra misteriosa na janela a encarando e emitindo uns sons estranhos que se misturavam com o dos trovões. Seria um shinigami* dando um aviso aos meros mortais moradores do 310?
Ano passado, quando ainda era calouro, presenciei um princípio de confusão no quarto 322. Isso porque as camas arrastadas sempre eram um tormento para os delicados moradores do segundo andar. Isso fica como uma advertência aos calouros: Problemas envolvendo barulho o culpado será sempre o morador do quarto de cima. Este ano, aconteceu praticamente a mesma situação em uma madrugada, porém, com uma pequena diferença. OS INCOMODADOS ERAM OS PRÓPRIOS MORADORES DO QUARTO.
Segundo relatos do próprio morador, uma situação um tanto quanto estranha acontece quando o nosso Diretor de Alimentação vai ao banho. “É só eu ligar o chuveiro que a luz apaga, tenho a sensação de que há alguém me espiando.” Afirma o morador, em um tom misto de preoucupação e apreensão. Segundo relatos de alguns moradores, há tempos existiu aqui um hóspede manja rola, que como o próprio nome sugere, enfim, que sumiu misteriosamente e não se teve mais notícia. Seria um espírito, um pouco meio que exótico e duvidoso curioso para saber se o nosso Diretor está se alimentando bem?
A CELU, como qualquer casarão passado a gerações possui seus grandes mistérios e lendas. Há quem acredite e quem não dá a mínima. Bom, para nós celuenses não vemos muitas vantagens em subir e descer várias escadas para morar no terceiro/”quarto” andar, tanto que é o andar com o maior número de migração de moradores nos fim de semestres. Coincidência, não?
*Shinigami é o deus da morte japonês.
Mateus Prazeres – Engenharia de Controle e Automação – UTFPR