Perdão, uma palavra que é muito usada em nossos dias, mas que também é muito mal compreendida. Costumamos dize-la quando reconhecemos que falhamos com alguém, para enfim, arrumarmos a situação. No entanto, há momentos em que apenas dizer perdão não é suficiente, é necessário o tempo para que o esquecimento aconteça.
Nos tempos antigos, o perdão não era visto como um sinal de virtude, mas como um sinal de fraqueza. Se um inimigo ou alguém indesejável que lhe fez mal, lhe pedisse por clemência, você provavelmente negaria, pois tal pessoa merece a condenação. No próprio Código de Hamurabi, antigo conjunto de leis escritas da Mesopotâmia, podemos ver a seguinte máxima: “Olho por olho e dente por dente”. Seria isso considerado justiça? Para algumas pessoas sim. Mas, será que esta era uma atitude virtuosa? Eis o ponto da questão. Pensando-se nisso, é preciso um momento de reflexão sincera sobre o perdão e a justiça.
Em casos de menor escala, como a desobediência de um filho com o seu pai, a palavra que foi mal colocada por um amigo numa discussão, ou até mesmo o ciúmes de uma namorada com o seu namorado, ao vê-lo flertando com os olhos outra mulher, é aplicado o perdão. Mas quando a escala fica maior, o perdão fica em segundo plano. Quando um sócio em um negócio o trai e rouba o seu dinheiro o perdão não é sequer mencionado, ou quando um cara mexe com a sua filha adolescente, humilhando-a, perdão é coisa de gente idiota, ou pelo menos, é o que se entende.
O paradoxo do perdão se dá primeiramente com Deus, que nas sagradas escrituras, têm uma relação, no mínimo incomum com o perdão. É entendido que Deus é Santo, Justo e também Amoroso. Mas como um juiz santo e justo pode julgar com amor as pessoas? Não teríamos uma contradição? Não, em Jesus Cristo, o eterno filho de Deus, na cruz do calvário fez com que os pecados de todos os homens fossem julgados e condenados, satisfazendo assim a sua santa justiça. Mas também é demonstrado amor, tão grande amor, como o discípulo João nos diz em 1 João 3:16, “Porque Deus amou o mundo que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Vemos então, o Deus criador de todas as coisas, que julga todas as coisas, demonstrando amor através do perdão. O perdão em Cristo não se dá porque a pessoa fez por merecer, mas pela poder amoroso da graça. Nos evangelhos vemos um Cristo que é morto pelos pecados de todo o mundo, num sacrifício substitutivo-expiatório satisfazendo a justiça de Deus, mas também distribuindo perdão, para aqueles que creem. Portanto, a justiça não deve caminhar longe do perdão, nem tampouco, o perdão longe da justiça. Cabe a nós, agora, homens do nosso tempo, ponderarmos as coisas e não nos esquecer do perdão quando pedimos por justiça. Pois o perdão, sem dúvida, carrega o paradoxo da graça e do amor, algo que não é de origem humana, mas divina.
Nicksson Baracy
Filosofia - UFPR