O objetivo do texto de hoje não é fazer vocês mudarem de idéia sobre o curso que escolheram ou quiçá fazê-los gostar de química, só achei interessante escreve-lo pelo fato de que, como graduandos, vocês necessitam de um senso crítico sobre as informações que produtos do dia a dia e a mídia em geral lhes oferece.
Tudo começa com as pessoas fazendo a seguinte associação: não gosto/ não vou bem em química, logo, tudo que “contém” química é ruim. Este tipo de estereótipo pode ser visto no texto da atriz e comediante Denise Fraga para o jornal folha de São Paulo, que eu destaco o seguinte trecho:
“Podemos saber de tudo navegando por aí. Tanto para aprender! E quem nos ensina a escolher o que queremos saber? Não poderíamos gastar o tempo de Química 3 com algo relacionado ao autoconhecimento e à capacidade seletiva e deixar as cadeias de carbono e hidrogênio pra quem realmente precisasse delas?”
É claro, todos vivem tranquilamente sem nenhuma cadeia de carbono, a partir disso, começam outras associações como “esse nome extremamente complexo do composto na embalagem do produto só pode significar algo que não me fará bem” como: 3-oxo-L-gulofuranolactona (5R)-5-[(1S)-1,2-diidroxietil]-3,4-diidroxifurano-2(5H)-ona, um aditivo muito utilizado, também conhecido pelo nome de vitamina C (imagina colocar um negócio desses no suco de laranja). O importante é ter cuidado com o que é divulgado pela mídia, um grande mal de muitos jornalistas é querer ter uma matéria apelativa, distorcendo o conteúdo para tal; por exemplo, há um pesquisador indiano chamado Rajender Varma que utiliza suco de beterraba, chás e outras substâncias menos ou não agressivas ao meio ambiente (mas não sem química), para estabilizar nano partículas metálicas de prata e ouro, mas são somente agentes estabilizantes, o ouro e a prata vêm de outras fontes, mas o que foi divulgado intitulava “Pesquisador vive dias de alquimista, transforma chás e sucos em ouro”.
Mas o que mais surpreende são as propagandas, principalmente de cosméticos que não utilizam química, como alisamentos sem química (usa o que? Anti-matéria?), ou simplesmente colocam palavras incomuns e que não possuem o menor nexo para parecer um produto sofisticado “este produto pode alinhar os spins da sua pele com a mesma capacidade que os raios emitidos pelo sol no início da manhã e no final da tarde” (acreditem, isto está em um rótulo de creme hidratante).
O maior divulgador da ciência que com certeza já existiu foi Carl Sagan, sempre foi muito preocupado em unir a mídia e a ciência, recomendo os vídeos de seu programa cosmos e seu livro O mundo assombrado pelos demônios.
Sirlon Blaskievicz (Ex-Morador)
Formado em Química - UFPR