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Aron Reina Alves Rodrigues

Do Brasil para a França, as primeiras impressões do Velho Mundo

A França é conhecida por sua capital, Paris, cujo cartão postal é nada mais nada menos do que a belíssima torre em estrutura metálica de respeitáveis 364 metros de altura que leva a alcunha de seu idealizador, o engenheiro Gustave Eiffel. Também lembrada por ser o lar da moda e de uma gastronomia aclamada por críticos e leigos como uma das mais requintadas do mundo, a França, ou L’Hexagone como queiram, não é somente Paris, ao contrário do que nos fazem acreditar.

O que hoje conhecemos por França é fruto de um intenso e rico processo histórico, que construiu uma sociedade peculiar aos olhos do mundo, uma sociedade gerada com base na indignação constante. A França viu em seu território diversos momentos de transformação da sociedade : desde o Império Romano, os ideais de “Liberté, Fraternité et Egalité” pairavam por estas terras. Passando pela Idade Média, lar dos castelos e igrejas góticas que podem ser visitados até hoje, pela Revolução Francesa e o estabelecimento de uma outra forma de ver a sociedade, que inspirou diversas outras nações, desde o gigante Estados Unidos até o gigante sul-americano tupiniquim, pelo Império de Napoleão que sucumbiu perante o General Inverno que comandava a defesa russa, pelo xeque-mate dado pelos Aliados no III Reich e, mais recentemente, centro do debate sobre o radicalismo religioso e a liberdade de expressão, motivado pelos atentados ocorridos na sede do Charlie Hebdo, a França é sem dúvida um país apaixonante e que merece ser visto além de seu cartão postal mais conhecido.

Château de Murol

No meio dessa riqueza toda está este que vos escreve : laureado com uma bolsa do programa Ciência sem Fronteiras, vim parar na cidade de Clermont-Ferrand, cidade com pouco mais de 140 mil habitantes, capital da região da Auvergne. Tal qual você, caro leitor, boa parte dos franceses não faz ideia do que vem a ser a Auvergne e foi justamente para o vazio demográfico francês que o garoto do interior do Paraná, que tem orgulho de ter nascido em Ponta Grossa, foi enviado.

Injustiçada pelos franceses, a Auvergne é a região com maior área de conservação ambiental da França : localizada no Massif Central, ela tem boa parte do seu território localizada na Chaîne de Puys, considerado pelos vulcanólogos mundiais como o melhor lugar para se estudar a gênese dos vulcões. De pouco em pouco esta região vem sendo desbravada pelos amantes de esportes ao ar livre. Também conhecida pela produção de queijo, a Auvergne conta com cinco tipos de queijos diferentes protegidos pela União Europeia : o Cantal, o Salers, o Saint-Hectaire, o Bleu d’Auvergne e o Furme d’Ambert.

Auvergne

Clermont-Ferrand, apesar de pequena tem sua importância. Esta cidade viu nascer grandes nomes da história mundial, como Vercingertorix, gaulês e único general que conseguiu o feito de vencer o poderoso exército de Júlio Cesar, e Blaise Pascal, matemático, físico, inventor, filósofo, ensaísta… que os engenheiros conhecem tão bem do Sistema Internacional de Unidades devido à unidade de pressão que leva seu nome (Pascal - Pa). Foi aqui também o primeiro Concílio da Igreja Católica, convocado pelo papa Urbano II, que deu início às Cruzadas, no século XI.

Sede do grupo Michelin até hoje, Clermont-Ferrand é, com exceção de Paris, a única cidade que tem a sede administrativa de uma grande empresa em seu território em toda a França. Todas as outras grandes empresas francesas que você pode imaginar têm seu quartel-general sediado na Cidade Luz. E é também devido ao grupo Michelin que Clermont-Ferrand ocupa local de destaque no esporte europeu : a ASM Clermont-Auvergne, uma das equipes de rugby mais respeitadas no mundo, tem sede em Clermont-Ferrand e foi fundada inicialmente como um clube de rugby que reunia os “bibs”, nome dado aos trabalhadores do grupo Michelin. Verdade seja dita, podemos dizer que a ASM é o “Vasco do rugby francês” : ela é a equipe que tem o maior número de vice-campeonatos (dez no total) na França, conquistando Bouclier de Brennus somente uma vez em 2010. Temos também um time de futebol, o Clermont Foot 63, mas nem vale à pena comentar o desempenho pífio do mesmo na segunda divisão do futebol francês.

Tietando o Bibendum

Enfim, a França vai continuar sendo sempre o país da Torre Eiffel, mas não custa nada saber que a França é mais do que ela : esse país conta com paisagens naturais exuberantes, uma arquitetura rica, uma história densa e sobretudo, uma gastronomia impecável. No entanto devo alertar que este último nunca vai superar o bom e velho arroz com feijão brasileiro, nunca.

Aron Reina Alves Rodrigues

Engenharia Civil - UFPR

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